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segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

O Programa Sem Fronteiras da Globo News entrevistou Katherine Hayles, do Instituto de Tecnologia da Califórnia, autora do livro premiado, “Como nos tornamos pós-humanos”. O reporter Jorge Pontual questiona sobre os riscos e implicações na identidade pessoal e comportamento cognitivo atribuidos aos sites colaborativos e softwares livres ;
Sem Fronteiras - A maioria destes jovens que circulam pelo campus tem uma página no Face Book ou no My Space ou em algum outro site de relacionamento; muitos passam cada vez mais tempo em frente ao computador, vivendo suas vidas sociais num espaço virtual. Para os avós deles, isto não é vida normal. Estão se tornando pós-humanos?
Katherine Hayles - Estão se tornando pós-humanos porque participam de uma tecnologia que em si é um “cognizer” ativo. Estão em interface com uma tecnologia que não é passiva, como um caderno, mas pode executar ações por si mesma e assim por diante. Eles estão entendendo cada vez mais que cognição não está apenas na cabeça mas está distribuída pelas máquinas que eles usam e por toda a rede. E também estão cada vez mais adqüirindo a noção de que se trata de um agente distributivo, e de que a cognição distribuída vem acompanhada da idéia de que você está numa rede, de que sua agência é apenas parcial e influenciada pelas outras ao seu redor.
Se os agentes cognitivos são distribuídos, o que isto significa para o self?
Significa diferentes versões do self, com muito menos ênfase em autonomia, racionalidade e independência e muita ênfase em interação, colaboração necessária para que alguma coisa aconteça e numa agência que inclui atores humanos e atores não humanos.
Qual a implicação para a psiquê e para a identidade pessoal?
Bem, esta questão é muito complexa. Mas uma das questões para a subjetividade e a noção de que a subjetividade é formada não apenas pela língua natural, mas por códigos de programação. Por exemplo, quando alguém trabalha no Face Book ou qualquer outro site distributivo todas as informações na tela são permeadas por camadas de códigos de computação. Então, na medida em que todo mundo tem que fazer um pouco de programação, mesmo se for apenas preencher quadros ou coisas assim, a língua natural não é o único sistema semiótico em operação ali. Conseqüentemente, há camadas de códigos em cada transação linguística e em cada transção digital. Estamos pensando na direção de que estas camadas de códigos estão começando a funcionar como um subconsciente cultural. De que em vez de um subconsciente imaginado em moldes antropomórficos tal como Freud e Jung pensaram, há cada vez mais obras de ficção e mais produção cultural que partem do pressuposto de que o inconsciente está funcionando a partir de códigos programados. Na realidade, está funcionando como códigos programados.
Levar uma vida virtual on line, fingir que você é uma outra pessoa, até mesmo de outro sexo, é muito excitante, como uma droga, vicia?
Pode viciar, há muita pesquisa sobre adição não só em sites como Second Life, mas também em jogos no computador e em vídeo, o que também é uma forma de presença virtual. Você está num mundo diferente, fazendo papel de avatares fortíssimos, e estes jogos e até certo ponto as redes sociais em sites são criados com estruturas de compensação que os torna viciantes. Estes jogos devem viciar, não é um acidente.

A maneira como estamos vivendo lembra o que Phillip Dick escreveu nos anos 60, ele é o autor da história que inspirou o Blade Runner. Como esta nova forma de viver está relacionada ao capitalismo avançado?
Toda a tecnologia da comunicação que conduziu aos sites de relacionamento com ênfase na cognição distributiva é totalmente intrínseca ao desenvolvimento do capitalismo avançado. O capitalismo avançado não poderia existir em sua forma globalizada sem estas tecnologias. Vêm ao mundo juntos. Globalização e sites de relacionamento social.
Por que?
Por que? Porque ambos dependem muito da infraestratura de informação transmitida em altíssima velocidade, com imensa capacidade de armazenamento e de manipulação das informações.

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